CICLOVIDAS

As ciclovias são muito importantes para preservar vidas.
A criação de uma rede cicloviária é fundamental para democratizar o trânsito e dar segurança aos ciclistas e aos demais usuários do sistema viário.

domingo, outubro 14, 2007

Guia do Ciclista

Para ler o conteúdo do Guia do Ciclista, clique na imagem abaixo.

quinta-feira, abril 05, 2007

Falta orientação aos ciclistas


O Código de Trânsito Brasileiro (Lei n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997) diz que os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito devem garantir o exercício do direito do trânsito seguro (art. 1.º), competindo aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição, promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas (arts. 21 e 24).
Após a morte trágica de um garoto ciclista sob as rodas de um ônibus na rua Blumenau, bairro São João, em janeiro de 2006, foi ali implantada uma ciclofaixa. [Antes e depois desse acidente mortal, muitos outros cidadãos itajaienses perderam a vida pedalando nas ruas da cidade.] As modificações efetuadas nessa via e em suas transversais, além de facilitar o tráfego de veículos automotores, também melhorou em muito a circulação de bicicletas. Não obstante, passado um ano e pouco, muitos biciclistas por desorientação ou ignorância ainda deixam de utilizar a ciclofaixa, colocando em risco suas vidas e atrapalhando o trânsito. As irregularidades praticadas a toda hora na rua Blumenau acontecem também em outras vias com anexo cicloviário da cidade. De que adianta implantar "ciclovias", se os ciclistas não são induzidos (ou obrigados) a utilizá-las. Alguma providência mais efetiva e enérgica deve ser tomada pelos responsáveis pelo trânsito.
O coordenador da Coordenadoria Técnica de Trânsito e Transporte de Itajaí (Codetran), Carlos César Pereira, falou num programa de televisão, recentemente, que seria feito uma campanha de educação para o trânsito. Ocorre que, geralmente, as orientações e informações – transmitidas através de contato pessoal por policiais e outros agentes de trânsito ou por meio de material impresso (folder, folheto, volante) e pela mídia (jornal, rádio, televisão) – são mais voltadas aos condutores (motociclistas, motoristas) de veículos automotores. Seria importantíssimo realizar ações de conscientização de todos os usuários do trânsito. Ou seja, é preciso acentuar a educação aos pedestres e, principalmente, aos ciclistas, para que estes criem o hábito de utilizar as "ciclovias". Até já existem impressos com orientações mínimas aos usuários, como informou o diretor Selmo Pedro Corrêa. Mas, pelo visto, muita gente não tem acesso às informações ou não as leva a sério. Sem instrução generalizada, fiscalização permanente e punição exemplar não se muda a conduta dos maus usuários de vias públicas.
No trecho da rua Blumenau em que há ciclofaixa, com 1.200 metros de extensão, existem 43 placas de sinalização de trânsito. São 12 tipos de sinalização vertical diferentes, predominando o sinal de "Proibido Parar e Estacionar", afixado em 14 pontos da via. Como na maioria dos logradouros, as placas com sinais de regulamentação, advertência e indicação destinam-se a orientar sobretudo os condutores de veículos automotores. E não há nenhuma placa sinalizando, para ciência imediata dos transeuntes, a existência da faixa destinada à circulação exclusiva de ciclos, ou informando da obrigatoriedade de sua utilização pelos ciclistas. Existe apenas discreta sinalização horizontal na própria ciclofaixa. Deveria haver placas com o sinal de "Proibido Trânsito de Bicicletas" nas faixas destinadas aos veículos automotores e de tração animal. Isso ratifica o que foi exposto no parágrafo anterior, quanto à prioridade dada aos usuários motorizados. Na concepção da maioria dos projetos viários, os pedestres e os ciclistas não são considerados.
Além de campanhas educativas, que desde sempre não atingem grande parte da população, algo mais precisa ser feito. E uma providência simples que pode ter bom efeito, seria a colocação de placas distintas ao longo das vias, especialmente no lado oposto à "ciclovia", com o símbolo da bicicleta e letreiro (maiores) indicando aos ciclistas para que utilizem a faixa especial a eles destinada. Não basta colocar placas com sinais de trânsito que os motoristas não vêem e nem entendem, muito menos os ciclistas. Mesmo que esporadicamente, seria importante haver policiais militares ou guardas municipais nos locais direcionando os bicicleteiros a irem e virem pela vias ciclísticas. Utilizando as “ciclovias”, os pedaleiros transitam com mais segurança e não prejudicam o trânsito de veículos automotores. Com essas e outras medidas de tráfego, muitas mortes de ciclistas seriam evitadas.
Desde que o tráfego nos permita reduzir a velocidade ou caso seja possível parar o veículo em local exterior à via, quando encontramos pessoas pedalando fora da ciclofaixa, falamos para elas andarem pela faixa das bicicletas, porque é mais seguro. Mesmo não partindo de uma autoridade ou agente de trânsito, a resposta tem sido extremamente positiva, haja vista que praticamente todos os biciclistas alertados seguem nossa orientação. Isso mostra que o desrespeito às normas do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é devido mais à desinformação sobre a legislação e ao desconhecimento da existência de espaços cicloviários – que ainda são escassos em nossa cidade. E sem dispor de ampla infra-estrutura apropriada ao trânsito de bicicletas, é difícil criar uma cultura cicloviária.
Têm sido realizadas diversas obras viárias, incluindo novas "ciclovias", e feitas modificações no trânsito de várias vias urbanas do Município. Apesar de persistente deficiência do sistema viário – e de críticas de comerciantes e usuários, muitas improcedentes e infundadas –, houve melhora considerável no tráfego da cidade nos últimos tempos. Como nas demais cidades brasileiras, devido à demanda crescente e à limitação orçamental, jamais serão solucionados todos os problemas do trânsito de Itajaí. Então, ainda que mais realizações pudessem ser concretizadas, como quer o povo itajaiense, há que se reconhecer o bom trabalho da atual Gestão municipal, que tem na Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (SPDU) e na Codetran as equipes mais qualificadas e competentes das últimas décadas.
O "leitmotiv" se justifica. Tudo que exaramos sobre a situação do trânsito da rua Blumenau, aqui tomada como referência, se aplica a muita outra via urbana com anexo cicloviário (ou não) existente na cidade de Itajaí e em outros municípios brasileiros. Se indivíduos escolarizados cometem infrações no trânsito por desconhecer ou ignorar propositadamente o regulamento, como esperar do pobre ciclista analfabeto o cumprimento das leis de trânsito. Muito disso que dissemos ou sugerimos seria desnecessário – e as infrações e os acidentes de trânsito seriam minimizados, com sem-número de vidas preservadas –, se toda a população fosse bem instruída, recebendo educação para o trânsito desde a pré-escola até a universidade. Enfatizamos, por fim, que além de infra-estrutura cicloviária, ou melhor, de um sistema viário exclusivo para bicicletas, falta orientação aos ciclistas.
Nelson Heinzen,
Itajaí - SC.
[DL, 05/04/2007, p. 17]

sexta-feira, março 03, 2006

Itajaí terá ciclovias???


O Diarinho de 10 e 11 de maio de 2003 – há quase três anos, portanto –, na coluna Opinião, publicou artigo de nossa autoria intitulado "Itajaí não possui ciclovias!!!". Apesar desse manifesto e de reclamações de muita gente, a situação cicloviária da cidade permanece praticamente inalterada. [Menos de 1% (um por cento) das vias urbanas de Itajaí possui algum tipo de anexo cicloviário.]
Itajaí cresce a olhos vistos, e apesar das melhorias realizadas, a infra-estrutura viária da cidade fica sempre aquèm das necessidades dos usuários, principalmente dos ciclistas, que a toda hora sofrem acidentes no trânsito, inclusive com mortes trágicas (já foram tantas vidas ceifadas nas vias públicas), como a que aconteceu em janeiro último na rua Blumenau, bairro São João, onde um garoto perdeu a vida sob as rodas de um ônibus, diante dos olhos da mãe, que estava sendo carregada no bagageiro da bicicleta.
Semanas depois do protesto de familiares e amigos da vítima defronte do Paço Municipal e da passeata até o local fatídico em que o sangue do infeliz biciclista espalhou-se pelo asfalto, a Prefeitura realizou modificações no trânsito daquela rua e de suas transversais, implantando ali uma ciclofaixa, cuja demarcação, diferentemente das irregulares ciclofaixas antigas de Itajaí (denunciado no artigo supracitado), estaria conforme às determinações do Código de Trânsito Brasileiro - CTB (Lei n.º 9.503, de 23 de setembro de 1997).
Ainda que pontual e discreta, ante a enorme deficiência cicloviária do Município, depois de um bom tempo alguma coisa está sendo feita para preservar vidas dos pobres ciclistas. Essa nova configuração da rua Blumenau e do seu em torno – uma das melhores soluções de trânsito concretizadas nos últimos tempos na cidade –, sem dúvida, facilita sobremaneira o trânsito de biciclos naquela área. Com essas medidas, também melhora sensivelmente o trânsito de veículos automotores e, inclusive, de pedestres. Mas iniciativas como essa podem e devem ser implementadas em várias outras regiões da Cidade. Espera-se que não seja necessário acontecer outras tragédias para que, só então, os governantes tomem atitudes para melhorar o sistema viário, especialmente a viação cicloviária.
No Entrevistão (Diarinho, de 18 e 19 de fevereiro), o prefeito Volnei Morastoni disse que "nós temos um plano de ciclovias, que terão que ser feitas". Na Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (SPDU) existem projetos viários excelentes a serem implantados em Itajaí. Só falta sair do papel. Dentre esses, vale destacar o projeto de construção da Via Expressa Portuária, ligando o Porto à rodovia federal BR-101, que está em fase de licitação. Segundo o engenheiro da SPDU Alexandre Gevaerd, está prevista a inclusão de uma ciclovia nessa obra. Se tudo que está planejado for executado, será coisa de Primeiro Mundo. Esperamos que realmente sejam incorporadas ciclovias (Itajaí ainda não possui nenhuma) – e não ciclofaixa, que é menos segura – nessa nova artéria urbana e em outras vias vultosas. E nas ruas onde não caberia ciclovia, ciclofaixas, como essa da rua Blumenau, e faixas ou calçadas compartilhadas poderiam perfeitamente ser implantadas. Para isso, bastaria transformar em mão única a maioria dos logradouros públicos. A criação de uma rede cicloviária é de fundamental importância sobretudo para preservar vidas de milhares de ciclistas itajaienses.
Assim como o Partido Verde (PV) pede a construção de ciclovias em Itajaí (Diarinho de 07/02/06, p. 8), todos os cidadãos itajaienses devem se preocupar com a situação do trânsito da nossa cidade. Se não manifestarmos nossas ansiedades dificilmente os governantes irão se preocupar em satisfazer as necessidades do povo. Melhorar o sistema viário como um todo significa melhorar a qualidade de vida de toda a população.
Nelson Heinzen,
Itajaí - SC.
[DL, 03/03/2006]

domingo, junho 08, 2003

Ciclistas devem transitar na contramão???


Vez por outra aparece alguém na mídia criticando o comportamento dos ciclistas, por andarem na contramão de direção e sobre passeios e calçadas de vias urbanas. Mas os críticos não estão de todo certos. Igualmente ao pedestre, o ciclista pode andar com sua bicicleta sobre as calçadas e passeios públicos, desde que desmontado. Não obstante, pode ele circular montado em seu biciclo sobre calçadas e passeios em que haja sinalização que assim o permita, como se verifica junto a pouquíssimas ruas de Itajaí. Pode também o ciclista transitar no sentido contrário ao fluxo de veículos automotores, em vias dotadas com ciclofaixa. Além disso, se o novo Código de Trânsito Brasileiro - CTB (Lei n.° 9.503, de 23 de setembro de 1997) não deixa explícito que o ciclista não poderia transitar na contramão em vias de pista única, de um só ou com duplo sentido de direção, pode-se entender que nesse tipo de via a circulação de bicicletas na contramão de direção seria permitida.
Muita gente não possui recursos sequer para andar de ônibus. [Se não serve a grande número de pessoas, que motivo haveria para se privilegiar tanto o transporte de ônibus coletivos?] E a bicicleta, como meio de transporte popular de baixo custo, torna-se praticamente a única alternativa de veiculação da maioria dos proletários e seus familiares. Só que os ciclistas – compreendendo os cidadãos de todas as classes sociais que utilizam a bicicleta como meio de locomoção, lazer, esporte, etc. –, por causa da deficiente infra-estrutura viária, ficam expostos a toda sorte de perigo. Como a Cidade não dispõe de viação cicloviária apropriada (ver artigo: Itajaí não possui ciclovias!!! Diário do Litoral, de 10 e 11 de maio de 2003. p. 4), o biciclista geralmente vê-se obrigado a proceder de forma imprópria (?) no trânsito. Ou seja, para preservar sua vida, muitas vezes ele tem que circular em desacordo com certos preceitos legais. Seria um contra-senso apená-lo por defender sua integridade física.
Os ciclistas devem saber, todavia, que a legislação de trânsito estabelece equipamentos obrigatórios das bicicletas: campainha; sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e dos pedais; e espelho retrovisor do lado esquerdo. Mas passados mais de cinco anos da publicação do novo CTB, a máxima parte das bicicletas em circulação ainda não está adaptada às exigências da lei. Além dessa irregularidade, também outras infrações de trânsito são cometidas por grande parte dos ciclistas.
Tem-se verificado que, além de não respeitar as normas de trânsito, bom número de ciclistas é negligente e imprudente. Embora devessem circular pelos bordos da pista de rolamento, junto à guia da calçada (meio-fio), em fila única, é comum dois ou mais ciclistas andarem lado a lado, ocupando a parte central da faixa por onde devem passar os veículos maiores. Por mais que os motoristas tenham cuidado, agindo dessa maneira os ciclistas correm grande risco de serem atropelados. Se andassem na contramão os ciclistas dificilmente se exporiam a bater “de cara” com um veículo automotor. O bom senso manda que seja permitida a circulação de bicicletas em sentido contrário ao deslocamento de veículos automotores, bem como sobre calçadas e passeios, principalmente em locais em que não haja prejuízo à circulação de pedestres ou de veículos motorizados.
Itajaí não possui nenhuma via municipal de trânsito rápido. No entanto, grande número de veículos motorizados circula em velocidade superior a 60 Km/h em muitas avenidas e ruas da cidade. [Na maioria das vias urbanas a velocidade máxima permitida é ou 40 Km/h ou 30 Km/h.] Isso acontece na maioria das vias arteriais, coletoras e locais, principalmente nas asfaltadas, independente de haver ou não redutores de velocidade. É sobretudo nessas vias onde os motoristas excedem aos limites máximos de velocidade estabelecidos que os ciclistas correm maior risco de vida, ou melhor – como diz atualmente a imprensa -, de morte. Infelizmente, os pequenos – pedestres e ciclistas – são geralmente as vítimas da guerra no trânsito. É por isso também que sempre é bom reavivar que os veículos de maior porte são responsáveis pela segurança dos menores, e que os biciclos têm preferência sobre os veículos automotores.
Se fosse perguntado que distância deve guardar ao passar ou ultrapassar bicicleta, a grande maioria dos condutores de veículos automotores não saberia responder corretamente, dado que dificilmente a distância regulamentar – que é de um metro e cinqüenta centímetros –, é respeitada. Salienta-se, todavia, que a prática dessa norma do CTB fica dificultada em um sem-número de ruas de cidades brasileiras, posto que nenhum veículo motorizado, exceto ciclomotor ou motocicleta, poderia passar ou ultrapassar ciclistas em vias estreitas. É o caso de vários logradouros de Itajaí, incluindo a rua Hercílio Luz, onde não se tem visto motorista algum respeitar essa norma de trânsito. Por sinal, mesmo sendo cometida essa infração de natureza média, os veículos não têm sido multados.
Apesar de ser um dos logradouros mais movimentados de Itajaí, em virtude de ser uma das vias de acesso e saída da cidade e de ter grande movimentação de ônibus e caminhões - por causa da rodoviária (mal localizada), dos depósitos de contêineres e dos armazéns frigoríficos ali existentes –, a avenida Gov. Adolfo Konder, embora possua áreas largas com calçadas e jardins, em ambos os lados, não contém ciclofaixa nem sinalização que permita ao biciclista circular pela calçada. Nos espaçosos passeios da rua Min. Victor Konder, às margens do Saco da Fazenda, também não existe sinalização indicativa de que a circulação de bicicletas seria permitida. Nesses locais, porém, para defender sua vida, o ciclista deve circular – de forma responsável, como, diga-se a propósito, deve ser em todo lugar – sobre a calçada, como, aliás, muitos, montados em seus biciclos, já o fazem. E em vários outros locais o ciclista precisa ignorar normas do CTB se quiser retornar para sua casa são e salvo. O mesmo não deve acontecer, por exemplo, na rua Hercílio Luz – uma das principais vias do Centro da cidade –, onde o trânsito de veículos é relativamente lento e em cujas calçadas circula grande número de pedestres. Em toda via de tráfego intenso de veículos automotores e de escassa circulação de pedestres não há por que não permitir a circulação de ciclistas sobre passeios e calçadas.
Os senadores, os deputados, os vereadores e os demais responsáveis pela elaboração da legislação de trânsito e aqueles que condenam os ciclistas por circular em desacordo com as normas de trânsito certamente não precisam arriscar sua vida utilizando bicicleta em seus deslocamentos pela selva urbana. Muitos ciclistas são atropelados e mortos justamente por respeitarem as normas de trânsito, andando no lado direito da via e no sentido do trânsito, conforme determinações do CTB. Se andasse na contramão da via – do lado esquerdo, na de mão-dupla, e num dos lados, na de sentido único –, o ciclista teria perfeitas condições de verificar se um automóvel, ônibus ou caminhão passaria longe dele ou se estaria na iminência de atropelá-lo; e antevendo tal situação de perigo, teria ele a chance de defender-se de um acidente e salvar sua vida.
Leis são necessárias (mas nem todas) e devem ser respeitadas. Não se está, portanto, defendendo a desobediência à lei. Mas tão somente procurando mostrar que, para salvar vidas, determinados dispositivos legais precisam ser reavaliados. A exemplo do que estabelece para o pedestre – no tocante a circulação em sentido contrário ao deslocamento de veículos, em certas vias –, ao qual em determinadas circunstâncias o ciclista equipara-se, em direitos e deveres, o CTB deveria dizer que a circulação de bicicletas se daria no sentido contrário ao fluxo de veículos automotores, em toda e qualquer via. Se a lei contém falhas, ela deve ser alterada. Ou seja, a fim de preservar vidas, devem os equívocos ou erros da legislação de trânsito ser corrigidos. Enfatiza-se que os órgãos e entidades de trânsito do Município têm competência para regulamentar, respeitadas as disposições do CTB, a circulação de ciclistas em vias públicas de sua circunscrição, inclusive sobre passeios e calçadas.
Nelson Heinzen,
Itajaí – SC.
[DL, 07-08/06/2003, p. 4]

domingo, maio 11, 2003

Itajaí não possui ciclovias!!!


“O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito” e estes “darão prioridade em suas ações à defesa da vida”. Isto está expresso no artigo primeiro do novo Código de Trânsito Brasileiro - CTB (Lei n.° 9.503, de 23 de setembro de 1997). Mas o descumprimento à lei impera em todo o Brasil. O que se verifica são vias mal executadas e deterioradas – com faixas desniveladas, desmoronadas, esburacadas, etc. –, insuficiência ou inexistência de dispositivos de segurança, sinalização precária ou inexistente, principalmente em locais perigosos, entre outras deficiências viárias pelos quatro cantos do País. Apesar das melhorias implantadas nas vias urbanas de Itajaí nos últimos anos, ainda falta muita coisa para que os usuários, especialmente os ciclistas possam circular com segurança. Muitas ruas tem sido repavimentadas em concreto asfáltico sobre o calçamento existente, deixando-se bocas-de-lobo rebaixadas ou, pior, sem tampa, obstáculos estes que colocam em risco a vida dos ciclistas. Vale ressaltar que a maioria dos projetos viários – seja no âmbito federal, estadual ou municipal – não leva em conta o pedestre nem o ciclista.
Em Cuba e na China, mais por razões econômicas, devido a baixa renda da população, a bicicleta é utilizada em grande escala como meio de transporte de pessoas e mercadorias. Mas além de resolver o problema de transporte do pobre trabalhador, o uso generalizado de bicicletas traz inúmeras outras vantagens. Uma boa malha cicloviária (adjunta) contribui de várias maneiras na melhoria da qualidade de vida dos usuários e dos não-usuários da bicicleta: através da democratização do trânsito (distribuição mais eqüitativa dos espaços viários), da redução da poluição (menos veículos automotores circulando), da liberdade de locomoção (sem o extresse dos congestionamentos ou sem sujeitar-se aos horários dos ônibus coletivos, geralmente escassos ou inexistentes em determinados períodos e itinerários). Lembrando ainda que, com a prática do ciclismo, as pessoas realizam exercícios físicos deveras benéficos à saúde (redução considerável dos gastos médicos). E assim, com noção de que projetos cicloviários favorecem todo o sistema viário das cidades, a administração de Amsterdam, capital dos Países Baixos, implantou um excelente sistema de ciclovias por toda a cidade. Também o Japão – país com território pequeno e populoso –, com seu sistema viário saturado, pelo elevado número de veículos motorizados, encontrou no transporte cicloviário uma das soluções para seus problemas de trânsito.
Em seu discurso na Câmara dos Deputados, em 12 de fevereiro de 2001, o então deputado federal Antônio Carlos Konder Reis falou do Plano Cicloviário de Santa Catarina, objeto de convênio celebrado no ano anterior – quando do 1.º Encontro Catarinense por uma Política Cicloviária, realizado pelo Governo do Estado, em Florianópolis – entre a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e a Secretaria de Estado dos Transportes e Obras. O município de Itajaí teria estado representado nesse Encontro. Todavia, em nossa cidade ainda não se deu início à execução do programa Cidades Amigas da Bicicleta.
Infelizmente, poucas administrações municipais do País têm se preocupado com o transporte cicloviário. O descaso de seus prefeitos – incluindo Luiz Henrique da Silveira (PMDB), atual governador do Estado, que foi prefeito em três mandatos – fez com que Joinville, maior cidade de Santa Catarina, perdesse o título de “Cidade das Bicicletas”. Pelo visto, nem na Joinville do sonho do ex-prefeito LHS haveria projeto cicloviário. Atualmente, Volta Redonda (RJ) é a cidade brasileira com maior número de bicicletas por habitante; e a catarinense, seria Timbó. Dentre as raras cidades brasileiras com razoável infra-estrutura cicloviária – ciclovias, ciclofaixas, faixas compartilhadas, bicicletários, etc. – destacam-se: Rio de Janeiro (100 Km – maior projeto cicloviário da América Latina), Curitiba (30 Km), Blumenau (24 Km). Estas e algumas outras cidades têm projetos para construir/ampliar em seus territórios mais de 100 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas. E Itajaí, que plano tem? Se existe projeto cicloviário, como andam dizendo, é preciso desengavetá-lo e pôr mãos à obra.
Itajaí, na realidade, praticamente se iguala à grande maioria das cidades brasileiras que não possui nenhuma via apropriada para ciclistas. Pois, em termos de segurança, a Capital da Pesca quase nada oferece aos biciclistas. A Cidade possui apenas duas ciclofaixas (cujas linhas delimitadoras, segundo o CTB, deveriam ser pintadas de cor vermelha, e, não, amarela): em trechos (i) das ruas Silva e Heitor Liberato e (ii) da rua Prof.a Erotildes da Silva Fontes (nas placas consta erradamente “Prof.”, como abreviatura de professora), no Bairro São Vicente – onde está localizada a 2.ª Companhia do 1.° Batalhão da Polícia Militar, recentemente inaugurada. E possui ainda dois trechos de calçada (passeio) em que a circulação de bicicletas é permitida: (i) nas ruas Antônio Cirilo Dutra – onde se encontra a Policlínica São Vicente – e Pedro Rangel, na região do Parque Ecológico São João; e (ii) na rua Reinaldo Schmithausen, na área do Parque Náutico Odílio Garcia. E é só!!! Apesar de a cidade possuir mais de 800 vias urbanas, perfazendo alguns centos de quilômetros lineares de avenidas, ruas, vielas, etc., os trechos de ciclofaixa e calçada compartilhada, juntos, somam algumas poucas centenas de metros. Muito pouco para uma cidade como Itajaí, que, por ser plana, favorece o uso da bicicleta. Isso mostra que igualmente ao poder executivo de outras cidades, os governos do nosso Município – o atual e os anteriores – também não têm se preocupado com o transporte cicloviário. Não se pode chamar de ciclovia aos minguados trechos de calçada em que o trânsito é compartilhado por ciclistas e pedestres itajaienses. A designação apropriada seria calçada compartilhada ou, com certo exagero, faixa compartilhada. Portanto, observando ainda que há distinção entre ciclovia e ciclofaixa, pode-se afirmar categoricamente que Itajaí não possui uma única ciclovia sequer.
Enfim, para que a população passe a usar intensivamente a bicicleta como meio de locomoção, lazer, esporte e turismo, é fundamental o Município dispor de uma boa infra-estrutura cicloviávia. Não é aceitável o argumento de que não seria possível implantar ciclovias ou ciclofaixas na maioria dos logradouros, por serem estreitos. Se observarmos que pouquíssimas ruas precisariam ser de mão-dupla, inclusive nos bairros, inferimos que uma malha cicloviária poderia ser facilmente implantada por toda a cidade, como muito bem fez a cidade européia de Amsterdam. [Projetos viários não devem satisfazer interesses de meia dúzia de comerciantes, e, sim, oferecer conforto e segurança a todos os usuários das vias públicas, além de proporcionar bem-estar à população que vive junto aos logradouros.] Falta, portanto, somente vontade política por parte de nossos governantes para que tão relevante projeto cicloviário torne-se realidade.
Nelson Heinzen,
Itajaí – SC.
[DL, 10-11/05/2003, p. 4]

sábado, maio 10, 2003

Server-img